Sundar Singh


Nascimento
Em 03 de setembro de 1889 nascia na Índia Sundar Singh, o terceiro e ultimo filho de um influente político e governador de Putiala que pensava em fazer deste filho um político maior que ele próprio. 
Mas por influência de sua mãe se tornara desde cedo uma pessoa religiosa dentro dos costumes da religião sik. 
Aos 14 anos, com a morte de sua mãe, ele se revoltou contra tudo, chegando à duvidar da existência de um Deus. 
Seu pai o colocou no melhor colégio da cidade que era da Igreja Presbiteriana. 
No primeiro dia lhe deram um Novo Testamento, o que lhe causou um ataque de fúria em plena aula e chegando em casa queimou o livro. 
Mas o livro era obrigatório na escola e tinha que estudá-lo, isto gerou um conflito em sua cabeça, e passou a odiar aos cristãos. 


Conversão
Em poucos dias tomou uma decisão radical: 
se trancou em seu quarto e passou a estudar sobre Jesus e se fosse tudo verdade sobre o que falavam, então se suicidaria.
Passados três dias Jesus lhe apareceu e então como no episódio de Paulo ouviu a voz que dizia:
“Porque me persegues, se eu vim para te salvar?” Seu conflito cessou e foi tomado de uma grande paz, o que mais tarde afirmaria. 
Mas para um indiano mudar de religião é um caos! Reunida a família, foi lhe proposto a negar a nova fé e teria as melhores posições, 
privilégios que ninguém da família tivera ou seria banido para sempre. 
Fez a opção pela segunda escolha, seu pai foi radical e o mandou embora de casa só com a roupa do corpo. 
Na mesma noite dormiu embaixo de uma árvore e acordou terrivelmente doente, procurou uma missão americana aonde foi acolhido.


Passou três longos anos no seminário da missão, onde procurou aprender tudo sobre Jesus, e então decidiu que iria voltar ao seu povo e iria evangelizá-los, 
mas não em trajes ocidentais (casaco e gravata), e sim vestiu o hábito de sadu indiano e com os pés descalços. 
E assim o fez, atravessou toda a Índia de norte a sul, de leste a oeste pregando nas praças, nas aldeias, vilas, indo até ao Tibet. 
Tendo a oportunidade de ter pregado para o Lama,foi ridicularizado e acabou ficando preso, mas milagrosamente conseguiu sua liberdade.


Trecho do Livro Apostolos dos Pés Sangrantos
Certa feita, foi atirado pelos seus algozes dentro de um poço cheio de pessoas condenadas – mortas ou moribundas. 
Um poço de onde ninguém sairia. A despedida da vida. 
Quando chegou ao fundo, sentiu o contato morno de algo que nada mais era do que carne humana fétida, em decomposição. 
Logo em seguida fecharam a chave a boca do poço.
“Não sabia que três dias se tinham passado. 
Inerte, sentado entre os ossos e os cadáveres, aguardava a morte, quando a boca do poço se abriu. 
Um vulto irreconhecível surgiu, negro contra o céu da noite. 
A voz, ampliada, era como o trovão. Ordenava-lhe que agarrasse a corda. 
E pouco depois, tateando fracamente, encontrou-a. Tinha um nó na extremidade. 
Firmou ali o pé e segurou-a como pôde. 
Sentiu que era erguido. Seu corpo oscilou pesadamente de uma parede à outra, até que atingiu a superfície. 
Fortes mãos o agarraram e o colocaram em terra. 
O ar fresco invadiu-lhe os pulmões como a água da represa invade o vale, os diques. 
Tossindo, atordoado, ouviu como em sonhos o ranger da tampa, o som da chave na fechadura. 
Olhou em torno para conhecer o seu amigo desconhecido, mas viu que estava só na escuridão noturna. 
Caiu de joelhos e deu graças a Deus. 
Quem o visse dormindo entre o bulício da faina diária que começava não imaginaria que era o mesmo que estivera no fundo do poço por três dias”.


Parecia com Jesus
Dizem que a sua bondade, suas vestes longas, sua face amorenada, seus olhos brilhantes faziam-no parecer o próprio Jesus. 
Quando soube que seu pai se convertera voltou imediatamente à Índia para passar alguns dias com ele. 
Mas seu coração batia pelo Tibet. 
Por duas vezes se dirigiu para lá, mas misteriosamente não conseguiu chegar ao seu destino e teve que ser trazido muito enfermo, quase morto. 
Mesmo aconselhado por amigos e por seu médico quando recuperado se pôs a caminho. 
Sobre o gelo, o sangue; pés feridos em caminhos de brancura, regando o alvor da neve. À noite, o frio, o vento, a solidão, o gelo. 
Vermelhos de sangue, violentados pelos climas glaciais, sobre as montanhas, os pés de Sudar Singh deixaram um rastro vermelho, um doloroso rastro de sacrifício pelo evangelho, testemunho vivo que conduz a Jesus Cristo. 
E nunca mais foi visto o seu corpo não foi encontrado em parte alguma. 
Não houve noticia de que tenha cruzado com algum viajante ou que passasse em algum lugarejo. 
É provável que no Himalaia esteja hoje sua sepultura.

Richard Wurmbrand


Conversão - 1937
Em uma das muitas aldeias montanhosas da Roménia vive um carpinteiro idoso e religioso chamado Christian Wolfkes, o qual tem um amor fervoroso pelos judeus. Ele deseja ganhar um judeu para Cristo, mas não há nenhum na sua aldeia e ele está demasiado doente para viajar à procura de um, com quem possa compartilhar o Evangelho. Um jovem judeu e a sua esposa chegam à aldeia de Christian Wolfkes. Durante horas, o velho carpinteiro ora por esses estrangeiros judeus e procura de todas as maneiras possíveis, levá-los ao Salvador. 
O maduro carpinteiro dá-lhes um Novo Testamento. Os estrangeiros judeus, Richard e Sabina Wurmbrand, finalmente dedicam as suas vidas a Jesus Cristo.

1941
A Roménia apoia a Alemanha na guerra contra a União Soviética e integra as forças alemãs. Richard Wurmbrand, agora Pastor, vê uma nova oportunidade entre os soldados e inicia atividades evangelísticas. Durante o terror do Nazismo, Richard e Sabina são repetidamente espancados e presos. A família da senhora Wurmbrand perece na exterminação em massa, nos campos de concentração de judeus.

Os comunistas obtêm o poder na Roménia e um milhão de tropas russas são convidadas a invadir todo o país. O Pastor Wurmbrand inicia um duplo ministério: com os seus compatriotas oprimidos e com os russos. Ele aborda comboios e usa as longas viagens para pregar o Evangelho; disfarçado, entra nos campos do exército russo e expõe a Palavra de Deus.

1945
Richard e Sabina Wurmbrand assistem ao “Congresso dos Cultos” promovido pelo governo comunista romeno. Como vários líderes religiosos juram lealdade ao novo regime, Sabina diz ao seu marido para “limpar a vergonha da face de Jesus”. Richard, sabendo do resultado de tal ato, foi à frente. Os delegados acreditam que ele irá louvar a nova liderança, mas, para sua surpresa, Richard diz aos 4.000 delegados que o seu dever como cristão é apenas glorificar a Deus e a Cristo.

1947
Richard organiza grupos de cristãos para contrabandear Evangelhos russos para a Rússia. Em 30 de Dezembro, a República da Roménia é proclamada.

1948
Num Domingo de manhã, a 29 de Fevereiro, o Pastor Wurmbrand sai da Igreja. Um pequeno grupo da polícia secreta raptam Richard e fecham-no numa cela solitária, nomeando-o “Prisioneiro número Um”.

1950
Sabendo do trabalho de Sabina na Igreja secreta, os comunistas prendem-na e colocam-na em trabalhos forçados no Canal do Danúbio. O seu filho de 9 anos, Mihai, é deixado abandonado nas ruas.

1953
Sabina Wurmbrand é libertada e continua o seu trabalho na Igreja secreta. Contam-lhe que o marido tinha morrido na prisão. Recusando-se a acreditar no relatório, Sabina mantém a sua esperança de um dia ver Richard novamente.

1956
Wurmbrand é libertado após servir 8 anos e meio na prisão. Ele sofreu torturas horríveis e foi avisado para nunca voltar a pregar. Apesar do tratamento dos seus raptores, Richard trata-os apenas com amabilidade. Depois da sua libertação, Richard recomeça o seu trabalho na Igreja secreta.

1959
Richard volta a prisão através de um dos seus próprios associados da Igreja secreta. É novamente preso e condenado a 25 anos.

1964
O Pastor Wurmbrand é libertado da prisão e recomeça o seu trabalho. Chegam a Bucareste os Reverendos W. Stuart Harris e John Moseley, da Missão para os Milhões da Europa. Dirigem-se cuidadosamente ao sótão onde moram os Wurmbrands, onde o Pastor conta novamente algumas das suas experiências na prisão. No dia seguinte, encontram-se num parque em Bucareste e têm a sua conversa final. Trata-se do primeiro contacto dos Wurmbrands com missionários de fora desde as suas prisões.

1965
A familia Wurmbrand é resgatada da Roménia por $10.000 e Richard é novamente avisado pela polícia secreta para manter silêncio. Os Wurmbrands viajam para a Escandinávia e Inglaterra antes de chegarem aos Estados Unidos. Em Maio, o Pastor testemunha em Washington D.C., antes do Sub-comité de Segurança Interna do Senado, desnudar a sua cintura e revelar dezoito feridas profundas no seu corpo. Esta história espalha-se rapidamente pelo país e pelo mundo, e centenas de convites para testemunhar chegam a sua casa.

1966
Richard e Sabina iniciam a sua viagem de pregação internacional, revelando as atrocidades cometidas contra os seus irmãos e irmãs nos países comunistas. O Pastor Wurmbrand sabe que a polícia secreta romena está a planejar a sua morte. Todavia, o pastor não podia ser silenciado. Ele continua a sua viagem de pregação e começa a ser conhecido como “a Voz da Igreja Secreta”.

1967
Com o desejo de servir a sua Família perseguida de uma forma melhor, os Wurmbrands iniciam oficialmente um ministério de compromisso com esse serviço. Em Abril, é formada a “Jesus para o Mundo Comunista”, mais tarde chamada por “A Voz dos Mártires”. O livro “Torturado para Cristo”, que conta a experiência do Pastor Wurmbrand na prisão, é lançado. Em Outubro, é lançado o primeiro número do jornal mensal de “A Voz dos Mártires”.

Anos 70 até meio dos anos 80
Apesar da Guerra Fria dos anos 80, A Voz dos Mártires permanece verdadeira ao seu chamado para servir a Igreja perseguida. O trabalho desenvolve-se com cinco objectivos principais e liga mais de 80 nações.

1989
Uma falha da democracia mostra a brutalidade dos comunistas chineses quando massacram aproximadamente mil protestantes em Tianamen Square, Beijing. Iniciam-se manifestações na Europa de Leste e em 9 de Novembro cai o Muro de Berlim. Um Pastor romeno prega em Timisoara. Logo depois, milhares de romenos começam a protestar contra o regime opressivo de Elena e Nicolae Ceausescu. Muitos soldados, convencidos pelas pessoas, tornaram-se polícia secreta. Em 25 de Dezembro, dia de Natal, a paz vem para a nação oprimida da Roménia.

1990
Em apenas alguns dias na nova Roménia de fronteiras abertas, colaboradores da Voz dos Mártires trazem camilhões com auxílio à Roménia e a outros países libertados. Richard e Sabina voltam à Roménia, depois de 25 anos de exílio. Richard é bem recebido por muitas Igrejas e até prega na televisão pública. Ele lamenta a execução dos tiranos romenos e prega uma mensagem de amor e perdão. Uma gráfica cristã e uma livraria são abertas em Bucareste. O governo local oferece um armazém para os livros cristãos, precisamente no mesmo local onde Richard foi preso em prisão solitária. Uma segunda gráfica é aberta escondida numa aldeia rural da China.

1991
Um escritório da Voz dos Mártires é aberto oficialmente em Cherkassy, na Ucrânia, onde o seu jornal se torna um dos mais largamente distribuídos dentro das publicações cristãs distribuídas no país. São enviadas dez toneladas de literatura e ajuda para a Sibéria. Em 25 de Dezembro, Mikhail Gorbachev demite-se como Presidente da União Soviética. No dia seguinte, esta cai oficialmente, trazendo fim ao partido do governo comunista pela primeira vez desde 1917. O trabalho de A Voz dos Mártires cresce na Arábia Saudita, Cuba, Tibete e Vietname.

1992
O governo comunista da Albânia cai, acabando “o primeiro estado ateu”. Em 15 de Setembro, a Voz dos Mártires abre uma livraria cristã em Moscovo e distribui mais de um milhão de Novos Testamentos ilustrados para crianças na Albânia, Roménia, Moldávia, Rússia, Ucrânia e Bulgária. Milhares de Bíblias usadas e livros cristãos, providenciados por cristãos nos Estados Unidos, são enviados para a Nigéria para centenas de Igrejas destruídas pelos islâmicos.

1994
Richard Wurmbrand lidera um tempo devocional de oração no Palácio Enver Hoxha na Albânia. Uma loja de café e uma livraria cristãs, chamadas “O centro de Stephen” são oficialmente dedicadas ao Senhor na capital de Tirana. São libertados da prisão dois pastores vietnamitas, após uma campanha mundial de oração e publicidade. Surgem novas oportunidades para assistir às famílias das vítimas dos “Terroristas do Caminho Brilhante”, nas áreas montanhosas do Peru. Terroristas prisioneiros são evangelizados e muitos vêm a Cristo. Cerca de 80.000 balões das Escrituras circularam através das fronteiras da Coreia do Norte.

1994–1995
Richard e Sabina regressam à Roménia para oficializarem a abertura da Casa de Crianças Ágape, um lugar para órfãos romenos e crianças de rua, para receberem amor, cuidados e o Evangelho. A distribuição da Bíblia na China cresce após a Secretaria de Segurança Pública continuar a desencorajar o não registo de edifícios de igrejas e confisco de toda a Escritura. São enviados cerca de 100.000 casacos, aproximadamente, para a sede da Voz dos Mártires, através da campanha “Casacos para a Rússia”, efectuada pelas famílias cristãs em toda a nação. Pela primeira vez, aldeões tribais no Vietna recebem Bíblias na sua própria língua. Os cristãos paquistaneses começam a receber ajuda da Voz dos Mártires.

1996
A Voz dos Mártires desenvolve novas estratégias de alcance às “fortalezas” do Laos comunista e Sudão islâmico. São estabelecidos os fundos “Bíblias para Nações Cativas” e inicia-se novo aumento de entregas de Bíblias em países fechados. Os colaboradores da Voz dos Mártires começam a difundir programas sobre o Evangelho no Oriente Médio .

1997
A Voz dos Mártires inicia o Projeto Missão Sudão, levantando fundos para prover “Pacotes Vida” (mosquiteiro, Bíblia, enxada, pratos, copos, panelas e outros bens necessários).

2000-2001
Sabina Wurmbrand, co-fundadora de A Voz dos Mártires, vai para o Senhor em 11 de Agosto de 2000, 6ª feira. O Pastor Richard Wurmbrand, fundador, vai para o Senhor em 17 de Fevereiro de 2001, sábado.

Existem desafios consideráveis para o século 21. Os países libertados recentemente da opressão comunista permanecem devastados, pelas décadas de terror. A China, bem como a Coreia do Norte, Vietna, Laos, e Cuba, são apanhados na boca do dragão comunista. Existem fortalezas islâmicas, tais como Bangladesh, Sudão, Arábia Saudita, Paquistão, Irão e Nigéria.

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João Ferreira de Almeida

Edições RC e RA
"Conhecido pela autoria de uma das mais lidas traduções da Bíblia em português, ele teve uma vida movimentada e morreu sem terminar a tarefa que abraçou ainda muito jovem."
Entre a grande maioria dos evangélicos do Brasil, o nome de João Ferreira de Almeida está intimamente ligado às Escrituras Sagradas.
Afinal, é ele o autor (ainda que não o único) da tradução da Bíblia mais usada e apreciada pelos protestantes brasileiros. Disponível aqui em duas versões publicadas pela Sociedade Bíblica do Brasil - a Edição Revista e Corrigida e a Edição Revista e Atualizada - a tradução de Almeida é a preferida de mais de 60% dos leitores evangélicos das Escrituras no País, segundo pesquisa promovida por A Bíblia no Brasil (ver número 158).

Se a obra é largamente conhecida, o mesmo não se pode dizer a respeito do autor. Pouco, ou quase nada, se tem falado a respeito deste português da cidade de Torres de Tavares, que morreu há 300 anos na Batávia (atual ilha de Java, Indonésia).

O Tradutor
O que se conhece hoje da vida de Almeida está registrado na "Dedicatória" de um de seus livros e nas atas dos presbitérios de Igrejas Reformadas (Presbiterianas) do Sudeste da Ásia, para as quais trabalhou como pastor, missionário e tradutor, durante a segunda metade do século XVII.
De acordo com esses registros, em 1642, aos 14 anos, João Ferreira de Almeida teria deixado Portugal para viver em Málaca (Malásia). Ele havia ingressado no protestantismo, vindo do catolicismo, e transferia-se com o objetivo de trabalhar na Igreja Reformada Holandesa local.

Aos 16 anos
Dois anos depois, começou a traduzir para o português, por iniciativa própria, parte dos Evangelhos e das Cartas do Novo Testamento em espanhol. Além da Versão Espanhola, Almeida usou como fontes nessa tradução as Versões Latina (de Beza), Francesa e Italiana - todas elas traduzidas do grego e do hebraico. Terminada em 1645, essa tradução de Almeida não foi publicada. Mas o tradutor fez cópias à mão do trabalho, as quais foram mandadas para as congregações de Málaca, Batávia e Ceilão (hoje Sri Lanka). Mais tarde, Almeida tornou-se membro do Presbitério de Málaca, depois de escolhido como capelão e diácono daquela congregação.
No tempo de Almeida, um tradutor para a língua portuguesa era muito útil para as igrejas daquela região. Além de o português ser o idioma comumente usado nas congregações presbiterianas, era o mais falado em muitas partes da Índia e do Sudeste da Ásia. Acredita-se, no entanto, que o português empregado por Almeida tanto em pregações como na tradução da Bíblia fosse bastante erudito e, portanto, difícil de entender para a maioria da população. Essa impressão é reforçada por uma declaração dada por ele na Batávia, quando se propôs a traduzir alguns sermões, segundo palavras, "para a língua portuguesa adulterada, conhecida desta congregação".
Perseguido pela Inquisição, ameaçado por um elefante
O tradutor permaneceu em Málaca até 1651, quando se transferiu para o Presbitério da Batávia, na cidade de Djacarta. Lá, foi aceito mais uma vez como capelão, começou a estudar teologia e, durante os três anos seguintes, trabalhou na revisão da tradução das partes do Novo Testamento feita anteriormente. Depois de passar por um exame preparatório e de ter sido aceito como candidato ao pastorado, Almeida acumulou novas tarefas: dava aulas de português a pastores, traduzia livros e ensinava catecismo a professores de escolas primárias. Em 1656, ordenado pastor, foi indicado para o Presbitério do Ceilão, para onde seguiu com um colega, chamado Baldaeus.
Ao que tudo indica, esse foi o período mais agitado da vida do tradutor. Durante o pastorado em Galle (Sul do Ceilão), Almeida assumiu uma posição tão forte contra o que ele chamava de "superstições papistas", que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo de Batávia (provavelmente por volta de 1657). Entre 1658 e 1661, época em que foi pastor em Colombo, ele voltou a enfrentar problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, impedi-lo de pregar em português. O motivo dessa medida não é conhecido, mas supõe-se que estivesse novamente relacionado com as idéias fortemente anti-católicas do tradutor.
A passagem de Almeida por Tuticorin (Sul da Índia), onde foi pastor por cerca de um ano, também parece não ter sido das mais tranqüilas. Tribos da região negaram-se a ser batizadas ou ter seus casamentos abençoados por ele. De acordo com seu amigo Baldaeus, o fato aconteceu porque a Inquisição havia ordenado que um retrato de Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa.

Casamento
Foi também durante a estada no Ceilão que, provavelmente, o tradutor conheceu sua mulher e casou-se. Vinda do catolicismo romano para o protestantismo, como ele, chamava-se Lucretia Valcoa de Lemmes (ou Lucrecia de Lamos). Um acontecimento curioso marcou o começo de vida do casal: numa viagem através do Ceilão, Almeida e Dona Lucretia foram atacados por um elefante e escaparam por pouco da morte. Mais tarde, a família completou-se, com o nascimento de um menino e de uma menina.
Idéias e personalidade

A Vida
A partir de 1663 (dos 35 anos de idade em diante, portanto), Almeida trabalhou na congregação de fala portuguesa da Batávia, onde ficou até o final da vida. Nesta nova fase, teve uma intensa atividade como pastor. Os registros a esse respeito mostram muito de suas idéias e personalidade. Entre outras coisas, Almeida conseguiu convencer o presbitério de que a congregação que dirigia deveria ter a sua própria cerimônia da Ceia do Senhor. Em outras ocasiões, propôs que os pobres que recebessem ajuda em dinheiro da igreja tivessem a obrigação de freqüentá-la e de ir às aulas de catecismo. Também se ofereceu para visitar os escravos da Companhia das Índias nos bairros em que moravam, para lhes dar aulas de religião - sugestão que não foi aceita pelo presbitério - e, com muita freqüência, alertava a congregação a respeito das "influências papistas".

Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradução da Bíblia, iniciado na juventude. Foi somente então que passou a dominar a língua holandesa e a estudar grego e hebraico. Em 1676, Almeida comunicou ao presbitério que o Novo Testamento estava pronto. Aí começou a batalha do tradutor para ver o texto publicado - ele sabia que o presbitério não recomendaria a impressão do trabalho sem que fosse aprovado por revisores indicados pelo próprio presbitério. E também que, sem essa recomendação, não conseguiria outras permissões indispensáveis para que o fato se concretizasse: a do Governo da Batávia e a da Companhia das Índias Orientais, na Holanda.

Exemplares destruídos
Escolhidos os revisores, o trabalho começou e foi sendo desenvolvido vagarosamente. Quatro anos depois, irritado com a demora, Almeida resolveu não esperar mais - mandou o manuscrito para a Holanda por conta própria, para ser impresso lá. Mas o presbitério conseguiu parar o processo, e a impressão foi interrompida. Passados alguns meses, depois de algumas discussões e brigas, quando o tradutor parecia estar quase desistindo de apressar a publicação de seu texto, cartas vindas da Holanda trouxeram a notícia de que o manuscrito havia sido revisado e estava sendo impresso naquele país.
Em 1681, a primeira edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu da gráfica. Um ano depois, ela chegou à Batávia, mas apresentava erros de tradução e revisão. O fato foi comunicado às autoridades da Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído de lá foram destruídos, por ordem da Companhia das Índias Orientais. As autoridades Holandesas determinaram que se fizesse o mesmo com os volumes que já estavam na Batávia. Pediram também que se começasse, o mais rápido possível, uma nova e cuidadosa revisão do texto.
Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares recebidos na Batávia foram destruídos. Alguns deles foram corrigidos à mão e enviados às congregações da região (um desses volumes pode ser visto hoje no Museu Britânico, em Londres). O trabalho de revisão e correção do Novo Testamento foi iniciado e demorou dez longos anos para ser terminado. Somente após a morte de Almeida, em 1693, é que essa segunda versão foi impressa, na própria Batávia, e distribuída.

Ezequiel 48.21
Enquanto progredia a revisão do Novo Testamento, Almeida começou a trabalhar com o Antigo Testamento. Em 1683, ele completou a tradução do Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento). Iniciou-se, então, a revisão desse texto, e a situação que havia acontecido na época da revisão do Novo Testamento, com muita demora e discussão, acabou se repetindo. Já com a saúde prejudicada - pelo menos desde 1670, segundo os registros --, Almeida teve sua carga de trabalho na congregação diminuída e pôde dedicar mais tempo à tradução. Mesmo assim, não conseguiu acabar a obra à qual havia dedicado a vida inteira. Em 1691, no mês de outubro, Almeida morreu. Nessa ocasião, ele havia chegado até Ezequiel 48.21. A tradução do Antigo Testamento foi completada em 1694 por Jacobus op den Akker, pastor holandês. Depois de passar por muitas mudanças, ela foi impressa na Batávia, em dois volumes: o primeiro em 1748 e o segundo, em 1753.

John Bunyan

Sonhador imortal
(1628-1688)

"Caminhando pelo deserto deste mundo, parei num sítio onde havia uma caverna (a prisão de Bedford): ali deitei-me para descansar. Em breve adormeci e tive um sonho. Vi um homem coberto de andrajos, de pé, e com as costas voltadas para a sua habitação, tendo sobre os ombros uma pesada carga e nas mãos um livro".

Faz três séculos que João Bunyan assim iniciou o seu li­vro, o Peregrino. Os que conhecem as suas obras literárias podem testificar de que ele é, de fato, "o Sonhador Imor­tal" - "Estando ele morto, ainda fala". Contudo, enquanto miríades de crentes conhecem o Peregrino, poucos conhe­cem a história da vida de oração desse valente pregador.
Bunyan, na sua obra, Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, nos informa que seus pais, apesar de vive­rem em extrema pobreza, conseguiram ensiná-lo a ler e es­crever. Ele mesmo se intitulou a si próprio de "o principal dos pecadores"; outros atestam que era "bem-sucedido" até na impiedade. Contudo, casou-se com uma moça de família cujos membros eram crentes fervorosos Bunyan era funileiro e, como acontecia com todos os funileiros, era paupérrimo; ele não possuía um prato nem uma colher - apenas dois livros: O Caminho do Homem Simples para os Céus e A Prática da Piedade, obras que seu pai, ao falecer, lhe deixara. Apesar de Bunyan achar algumas coisas que lhe interessavam nesses dois livros, somente nos cultos é que se sentiu convicto de estar no caminho para o Inferno.

Conversão
Descobre-se nos seguintes trechos, copiados de Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, como ele lutava em oração no tempo da sua conversão:

"Veio-me às mãos uma obra dos 'Ranters', livro esti­mado por alguns doutores. Não sabendo julgar os méritos dessas doutrinas, dediquei-me a orar desta maneira: 'Ó Senhor, não sei julgar entre o erro e a verdade. Senhor, não me abandones por aceitar ou rejeitar essa doutrina cega­mente; se ela for de ti, não me deixes desprezá-la; se for do Diabo, não me deixes abraçá-la!' - e, louvado seja Deus, Ele que me dirigiu a clamar; desconfiando na minha pró­pria sabedoria, Ele mesmo me guarda do erro dos 'Ran­ters'. A Bíblia já era para mim muito preciosa nesse tempo."

"Enquanto eu me sentia condenado às penas eternas, admirei-me de como o próximo se esforçava para ganhar bens terrestres, como se esperasse viver aqui eternamen­te... Se eu pudesse ter a certeza da salvação da minha al­ma, como se sentiria rico, mesmo que não tivesse mais para comer a não ser feijão."

"Busquei o Senhor, orando e chorando e do fundo da alma clamei: 'Ó Senhor, mostra-me, eu te rogo, que me amas com amor eterno!' Logo que clamei, voltaram para mim as palavras, como um eco: 'Eu te amo com amor eter­no!' Deitei-me para dormir em paz e, ao acordar, no dia se­guinte, a mesma paz permanecia na minha alma. O Se­nhor me assegurou: 'Amei-te enquanto vivias no pecado, amei-te antes, amo-te depois e amar-te-ei por todo o sem­pre'."

O Sonhador
"Certa manhã, enquanto tremia na oração, porque pensava que não houvesse palavra de Deus para me sosse­gar, Ele me deu esta frase: 'A minha graça te basta'."O meu entendimento foi tão iluminado como se o Se­nhor Jesus olhasse dos céus para mim, pelo telhado da ca­sa, e me dirigisse essas palavras. Voltei para casa choran­do, transbordando de gozo e humilhado até o pó."

"Contudo, certo dia, enquanto andava no campo, a consciência inquieta, de repente estas palavras entraram na minha alma: 'Tua justiça está nos céus.' E parecia que, com os olhos da alma, via Jesus Cristo à destra de Deus, permanecendo ali como minha justiça... Vi, além disso, que não é o meu bom coração que torna a minha justiça melhor, nem que a prejudica; porque a minha justiça é o próprio Cristo, o mesmo ontem, hoje e para sempre. As ca­deias então caíram-me das pernas; fiquei livre das angús­tias; as tentações perderam a força; o horror da severidade de Deus não mais me perturbava, e voltei para casa regozijando-me na graça e no amor de Deus. Não achei na Bíblia a frase: 'Tua justiça está nos céus.' Mas achei 'o qual para nós foi feito por Deus sabedoria e justiça, e santificação, e redenção' (1 Coríntios 1.30) e vi que a outra frase era ver­dade.

"Enquanto eu assim meditava, o seguinte trecho das Escrituras penetrou no meu espírito com poder: 'Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou.' Assim fui levantado para as al­turas e me achava nos braços da graça e misericórdia. An­tes temia a morte, mas depois clamei: 'Quero morrer.' A morte tornou-se para mim uma coisa desejável. Não se vive verdadeiramente antes de passar para a outra vida. 'Oh!' - pensava eu - 'esta vida é apenas um sonho em com­paração à outra!' Foi nessa ocasião que as palavras 'her­deiros de Deus' se tornaram tão cheias de sentido, que eu não posso explicar aqui neste mundo. 'Herdeiros de Deus!' O próprio Deus é a porção dos santos. Isso vi e disso me ad­mirei, contudo, não posso contar o que vi... Cristo era um Cristo precioso na minha alma, era o meu gozo; a paz e o triunfo por Cristo eram tão grandes que tive dificuldade em conter-me e ficar deitado."

Bunyan, na sua luta para sair da escravidão do vício e do pecado, não fechava a alma dos perdidos que ignora­vam os horrores do inferno. Acerca disto ele escreveu:

"Percebi pelas Escrituras que o Espírito Santo não quer que os homens enterrem os seus talentos e dons, mas antes que despertem esses dons... Dou graças a Deus, por me haver concedido uma medida de entranhas e compai­xão, pela alma do próximo, e me enviou a esforçar-me grandemente para falar uma palavra que Deus pudesse usar para apoderar-se da consciência e despertá-la. Nisso o bom Senhor respondeu ao apelo de seu servo, e o povo co­meçou a mostrar-se comovido e angustiado de espírito ao perceber o horror do seu pecado e a necessidade de aceitar a Jesus Cristo."

"De coração, clamei a Deus com grande insistência que Ele tornasse a Palavra eficaz para a salvação da alma... De fato, disse repetidamente ao Senhor que, se o meu enforca­mento perante os olhos dos ouvintes servisse para desper­tá-los e confirmá-los na verdade, eu o aceitaria alegremen­te."

"O maior anelo em cumprir meu ministério era o de en­trar nos lugares mais escuros do país... Na pregação, real­mente, sentia dores de parto para que nascessem filhos para Deus. Sem fruto, não ligava importância a qualquer louvor aos meus esforços; com fruto, não me importava com qualquer oposição."

Os obstáculos que Bunyan tinha de encarar eram mui­tos e variados. Satanás, vendo-se grandemente prejudica­do pela obra desse servo de Deus, começou a levantar bar­reiras de todas as formas. Bunyan resistia fielmente a to­das as tentações de vangloriar-se sobre o fruto de seu mi­nistério e cair na condenação do Diabo. Quando, certa vez, um dos ouvintes lhe disse que pregara um bom sermão, ele respondeu: "Não precisa dizer-me isso, o Diabo já cochi­chou a mesma coisa no meu ouvido antes de sair da tribuna."

Então o inimigo das almas suscitou os ímpios para ca­luniá-lo e espalhar boatos em todo o país, a fim de induzi-lo a abandonar seu ministério. Chamavam-no de feiticeiro, jesuíta, cangaceiro e afirmavam que vivia amancebado, que tinha duas esposas e que os seus filhos eram ilegítimos.

Quando o Maligno falhou em todos esses planos de des­viar Bunyan do seu ministério glorioso, os inimigos denunciaram-no por não observar os regulamentos dos cultos da igreja oficial. As autoridades civis o sentenciaram à prisão perpétua, recusando terminantemente a revogação da sen­tença, apesar de todos os esforços de seus amigos e dos ro­gos da sua esposa - tinha de ficar preso até se comprometer a não mais pregar.

A Prisão
Acerca da sua prisão, ele diz: "Nunca tinha sentido a presença de Deus ao meu lado em todas as ocasiões como depois de ser encerrado... fortalecendo-me tão ternamente com esta ou aquela Escritura até me fazer desejar, se fosse lícito, maiores provações para receber maiores consola­ções".

"Antes de ser preso, eu previa o que aconteceria, e duas coisas ardiam no coração, acerca de como podia encarar a morte, se chegasse a tal ponto. Fui dirigido a orar pedindo a Deus me fortalecesse com toda a força, segundo o poder da sua glória, em toda a fortaleza e longanimidade, dando com alegria graças ao Pai. Quase nunca orei, durante o ano antes de ser preso, sem que essa Escritura me entrasse na mente e eu compreendesse que para sofrer com toda a pa­ciência devia ter toda a fortaleza, especialmente para so­frer com alegria."

"A segunda consideração foi na passagem que diz: 'Mas nós temos tido dentro de nós mesmos a sentença de morte para que não confiássemos em nós mesmos, porém em Deus que ressuscita os mortos'. Cheguei a ver, por essa Escritura que, se eu chegasse a ponto de sofrer como devia, primeiramente tinha de sentenciar à morte todas as coisas que pertencem à nossa vida, considerando-me a mim mes­mo, minha esposa, meus filhos, a saúde, os prazeres, tudo, enfim, como mortos para comigo e eu morto para com eles.

"Resolvi, como Paulo disse, não olhar para as coisas que se vêem, mas sim, para as que se não vêem, porque as coisas que se vêem, são temporais, mas as coisas que se não vêem, são eternas. E compreendi que se eu fosse prevenido apenas de ser preso, poderia, de improviso, ser chamado, também, para ser açoitado, ou amarrado ao pelourinho. Ainda que esperasse apenas esses castigos, não suportaria o castigo de desterro. Mas a melhor maneira para passar os sofrimentos seria confiar em Deus, quanto ao mundo vindouro; quanto a este mundo, devia considerar o sepulcro como minha morada, estender o meu leito nas trevas, dizer à corrupção: Tu és meu pai', e aos vermes: 'Vós sois minha mãe e minha irmã' (Jó 17.13,14).

"Contudo, apesar desse auxílio, senti-me um homem cercado de fraquezas. A separação da minha esposa e de nossos filhos, aqui na prisão torna-se, às vezes, como se fosse a separação da carne dos ossos. E isto não somente porque me lembro das tribulações e misérias que meus queridos têm de sofrer; especialmente a filhinha cega. Mi­nha pobre filha, quão triste é a tua porção neste mundo! Serás maltratada, pedirás esmolas; passarás fome, frio, nudez e outras calamidades! Oh! os sofrimentos da minha ceguinha quebrar-me-iam o coração aos pedaços!"

"Eu meditava muito, também, sobre o horror ao Infer­no para os que temiam a Cruz a ponto de se recusarem a glorificar a Cristo, suas palavras e leis perante os filhos dos homens. Além do mais, pensava sobre a glória que Ele pre­parara para os que, em amor, fé e paciência, testificavam dele. A lembrança destas coisas serviam para diminuir a mágoa que sentia ao lembrar-me de que eu e meus queri­dos sofriam pelo testemunho de Cristo".

Nem todos os horrores da prisão abalaram o espírito de João Bunyan. Quando lhes ofereciam a sua liberdade sob a condição de ele não pregar mais, respondia: "Se eu sair hoje da prisão, pregarei amanhã, com o auxílio de Deus".

Mas se alguém pensar que, afinal de contas, João Bu­nyan era apenas um fanático, deve ler e meditar sobre as obras que nos deixou: Graça Abundante ao Principal dos Pecadores; Chamado ao Ministério; O Peregrino; A Pere­grina; A Conduta do Crente; A Glória do Templo; O Peca­dor de Jerusalém é Salvo; As Guerras da Famosa Cidade de Alma-humana; A vida e a Morte de Homem Mau; O Sermão do Monte; A Figueira Infrutífera; Discursos Sobre Oração; O Viajante Celestial; Gemidos de Uma Alma no Inferno; A Justificação é Imputada, etc.

Passou mais de doze anos encarcerado. É fácil dizer que foram doze longos anos, mas é difícil conceber o que isso significa - passou mais da quinta parte da sua vida na prisão, na idade de maior energia. Foi um quacre, chamado Whitehead, que conseguiu a sua libertação. Depois de liberto, pregou em Bedford, Londres, e muitas outras cida­des. Era tão popular, que foi alcunhado de "Bispo Bu­nyan". Continuou o seu ministério fielmente até a idade de sessenta anos, quando foi atacado de febre e faleceu. O seu túmulo é visitado por dezenas de milhares de pessoas.

Conclusão
- Como se explica o êxito de João Bunyan? O orador, o escritor, o pregador, o professor da E scola Dominical e o pai de família, cada um conforme o seu ofício, pode lucrar grandemente com um estudo do estilo e méritos de seus es­critos, apesar de ele ter sido apenas um humilde funileiro, sem instrução.

- Mas como se pode explicar o maravilhoso sucesso de Bunyan? Como pode um iletrado pregar como ele pregava e escrever num estilo capaz de interessar à criança e ao adulto; ao pobre e ao rico; ao douto e ao indouto? A única explicação do seu êxito é que "ele era um homem em cons­tante comunhão com Deus". Apesar de seu corpo estar preso no cárcere, a sua alma estava liberta. Porque foi ali, numa cela, que João Bunyan teve as visões descritas nos seus livros - visões muito mais reais do que os seus perse­guidores e as paredes que o cercavam. Depois de desapare­cerem os perseguidores da terra e as paredes caírem em pó, o que Bunyan escreveu continua a iluminar e alegrar a to­das as terras e a todas as gerações.

O que vamos citar mostra como Bunyan lutava com Deus em oração:

"Há, na oração, o ato de desvelar a própria pessoa, de abrir o coração perante Deus, de derramar afetuosamente a alma em pedidos, suspiros e gemidos. 'Senhor', disse Da­vi, 'diante de ti está todo o meu desejo e o meu gemido não te é oculto' (Salmo 38.9). E outra vez: 'A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresen­tarei ante a face de Deus? Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma!' (Salmo 42.2-4). Note: 'Derramo a minha alma!' é um termo demonstrativo de que em oração sai a própria vida e toda a força para Deus".

Em outra ocasião escreveu: "As melhores orações con­sistem, às vezes, mais de gemidos do que de palavras e estas palavras não são mais que a mera representação do co­ração, vida e espírito de tais orações".

Como ele insistia e importunava em oração a Deus, é claro no trecho seguinte: "Eu te digo: Continua a bater, chorar, gemer e prantear; se Ele se não levantar para te dar, porque és seu amigo, ao menos por causa da tua im­portunação, levantar-se-á para dar-te tudo o que precisares".

Sem contestação, o grande fenômeno da vida de João Bunyan consistia no seu conhecimento íntimo das Escritu­ras, as quais amava; e na perseverança em oração ao Deus que adorava. Se alguém duvidar de que Bunyan seguia a vontade de Deus nos doze longos anos que passou na prisão de Bedford, deve lembrar-se de que esse servo de Cristo, ao escrever O Peregrino, na prisão de Bedford, pregou um ser­mão que já dura quase três séculos e que hoje é lido em cento e quarenta línguas. É o livro de maior circulação de­pois da Bíblia. Sem tal dedicação a Deus, não seria possí­vel conseguir o incalculável fruto eterno desse sermão pre­gado por um funileiro cheio da graça de Deus!

(Extraído do livro Heróis da Fé)

Charles Spurgeon

O Príncipe dos Pregadores
Converteu-se ao cristianismo em 6 de janeiro de 1850, aos quinze anos de idade. Aos dezesseis, pregou seu primeiro sermão; no ano seguinte tornou-se pastor de uma igreja batista  em Waterbeach, Condado de Cambridgeshire (Inglaterra). Em 1854, Spurgeon, então com vinte anos, foi chamado para ser pastor na capela de New Park Street, Londres, que mais tarde viria a chamar-se Tabernáculo Metropolitano, transferindo-se para novo prédio.
Desde o início do ministério, seu talento para a exposição dos textos bíblicos foi considerado extraordinário.
E sua excelência na pregação nas Escrituras Bíblicas lhe deram os títulos de O Príncipe dos Pregadores e O Último dos Puritanos.
Charles Haddon Spurgeon nasceu em 19 de Junho de 1834, como o primogênito de 16 irmãos, de John Spurgeon e sua esposa Eliza Jarvis, em Keveldon, e foi batizado em 3 de agosto desse ano por seu avó, pastor Congregacional, James Spurgeon.
Em agosto de 1835, seus pais mudaram para Colchester,e entregaram Charles aos cuidados de seu avó, com quem viveu até os 5 anos. Durante esse tempo, leu muitos livros, entre eles "O Peregrino" de John Bunyan, obra que marcaria o resto de sua vida. Também leu, da biblioteca de sua avó, muitas obras de Puritanos, como Richard Baxter e John Owen. Aos seis anos, voltou a morar com os pais, já devidamente instalados em Colchester.


Conversão
De 1848 a 1850, Charles Spurgeon teve um período de muitas dúvidas e amarguras. Esteve sob grande convicção de pecado. Ficou convicto que não era um cristão de fato, mesmo sendo criado em todo o ambiente religioso de sua família e região, e sobre forte influência puritana e não-conformista. Em janeiro de 1850, tendo como objetivo ir a uma reunião matutina em uma igreja congregacional em Colchester, para buscar paz em sua perturbada alma, se deteve numa capela de metodistas primitivos em Artilley Stree, mais em consequência da forte nevasca que por vontade própria. Nessa capela, o jovem juntou-se a pequena congregação quando, sem pregador para ministrar a Palavra, um simples ministro intinerante chamado Robert Eaglen, em missão pela região de Colchester entre 1850-1851 [1], nesse dia, subiu ao púlpito, mesmo sem grande habilidade de orador, e repetiu nervosa e constantemente o texto de Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra. . Depois de certo tempo, apelou aos presentes que olhassem para Jesus Cristo. Spurgeon olhou para Jesus com fé e arrependimento, tendo Ele como seu Salvador e substituto, e foi salvo.


Ministério
Spurgeon logo causou muita agitação em Londres; alguns o criticavam pelo seu estilo de pregação (teatral demais para alguns; 'caipira' e vulgar para outros). Spurgeon era posto em dúvida até mesmo por seus colegas batistas. Alguns chegaram a publicar em jornais sobre suas dúvidas da real conversão do jovem Spurgeon. Mesmo com toda a oposição, a antes vazia e reduzida congregação atraiu a atenção de tantos, que em certos periódicos chegou-se a citar que "desde os tempos de George Whitefield e John Wesley, Londres não era tão agitada por um reavivador."
Com o passar do tempo, Charles Haddon Spurgeon se tornou uma celebridade mundial. Recebia convites para pregar em outras cidades da Inglaterra, bem como em outros países como França, Escócia, Irlanda, País de Gales, Holanda e Estados Unidos (foi convidado a pregar em Nova York, e em diversas outras oportunidades na América, mas sempre recusou os convites). Spurgeon pregava não só em reuniões ao ar livre, mas também nos maiores edifícios de 8 a 12 vezes por semana.
Segundo uma de suas biografias, o maior auditório em que pregou continha, exatamente, 23.654 pessoas: este imenso público lotou o The Crystal Palace, de Londres, no dia 7 de outubro de 1857, para ouvi-lo pregar por mais de duas horas.


Sermões
Spurgeon publicou seu primeiro sermão em Cambridge, num sermonário avulso, e em 1855, surgiu a ocasião da publicação semanal. Os sermões pregados por Spurgeon domingo de manhã, eram publicados na quinta-feira seguinte, ( e revisados pelo próprio Spurgeon) e os sermões pregados domingo a noite e quinta-feira a noite eram reservados para futura publicação: isso e mais alguns sermões escritos por Spurgeon quando doente formaram um tal acervo que garantiu a publicação semanal até o ano da morte de Spurgeon, ( até essa data, 2241 publicados) e dos outros até 1917, totalizando 3.653 sermões publicados divididos em 63 volumes ( maior que a Enciclopédia Britânica e até hoje considerada a maior quantidade de textos escritos por um único cristão em toda a história da cristianismo). O sermão nº 537 "A Regeneração Batismal" pregado em 1864, foi o que mais vendeu individualmente quando Spurgeon era vivo; a demanda chegou a 300.000 impressões em uma semana. Em 1892, os sermões de Spurgeon já eram traduzidos para cerca de 9 línguas diferentes.
Muitos sermões de Spurgeon eram enviados via telegrafo aos Estados Unidos e republicados lá: depois de 1865, muitos deles foram censurados, pelo fato de Spurgeon ser totalmente contra a escravidão dos negros africanos (Nessa época, ocorreu a Guerra de Sesseção)
Também escreveu e editou 135 livros durante 27 anos (1857-1892) e editou uma revista mensal denominada A Espada e a Espátula. Seus vários comentários bíblicos ainda são muito lidos. (O seu "Tesouro de Davi”, uma compilação de comentários sobre os Salmos, levou mais de 20 anos para sua conclusão.


Final de Carreira
Até o último ano de pastorado, 14.692 pessoas foram batizadas sob seu pastoreado. Nesse meio tempo, Spurgeon teve sua saúde grandemente debilitada. Nessa época, Spurgeon foi diagnosticado de doença de Bright, uma doença degenerativa e crônica, sem cura. Muitos sermões seus eram lidos, e outros escritos e enviados ao Tabernáculo para leitura, para suprir a falta do pastor. e Spurgeon ficou em Menton até 31 de janeiro de 1892, quando, depois de alguns dias de melhora de seu estado, houve uma grande deterioração de sua saúde, levando ao óbito nessa data, aos 57 anos. O corpo de Spurgeon foi trasladado da França para Inglaterra.
Na ocasião de seu funeral - 11 de fevereiro de 1892 - muitos cortejos e cultos foram organizados em Londres, e seis mil pessoas leram diante de seu caixão o texto de sua conversão, Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra. Spurgeon está sepultado no cemitério de Norwood, com um placa que diz:


Aqui jaz o corpo de CHARLES HADDON SPURGEON, esperando o aparecimento do seu Senhor e Salvador JESUS CRISTO





Elena Ewan

Não encontramos imagem desta Serva do Senhor
A vida fragrante
Como se explica tal vida?
Por Santiago A. Stewart
Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” 
2ª Coríntios 3:18
Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.” 2ª Coríntios 4:5-7


Introdução
Durante o mesmo tempo em que fui salvo, uma jovem chamada Elena Ewan também se converteu. O mesmo ocorreu durante a manifestação de Deus na cidade de Glasgow, Escócia. Nessa ocasião ela era somente uma moça franzina. Mas, quanto ao seu espírito, se entregou ao Senhor por completo desde o início na nova vida; portanto, foi enchido pelo Espírito Santo. Elena havia aceitado o convite do Senhor: “bebei abundantemente”! (Cantares de Salomão 5:1) E, como resultado, torrentes de água viva começaram a manar da sua própria vida. “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.” (João 7:37-39)


Nascimento de uma Flor
Elena nasceu por volta do ano de 1910, numa família simples de trabalhadores. Ela era a filha única da família. Seus pais amavam muito a Cristo, e o bendito Filho de Deus era o centro de seu lar. Eles viviam somente com um objetivo: agradar a Deus em cada detalhe de suas vidas. Quando eu visitava a casa deles, em cada ocasião sempre havia três Bíblias bem a vista.
Depois de converter-se, a idade de quatorze anos, toda a personalidade de Elena irradiava a glória do Senhor. Deus, na sua graça suprema, havia iluminado a sua alma, para que esta comum vasilha de barro pudesse magnificar a majestade do poder do evangelho.


Atônitos...
Tal manifestação da glória de Deus nela deixou a todos nós, atônitos. A sua vida era uma vida comum, mas iluminada com a Glória divina. Isto levou a minha mente a perguntar-me: “Como pôde entrar tanta glória numa vasilha de barro tão frágil?”
Pois estava cheia do Espírito Santo, estava cheia de Cristo. Estudando a Palavra de Deus sob a direção iluminadora do Espírito Santo, foram-lhes revelados os tesouros escondidos do próprio Senhor Jesus Cristo, (João 16:13-15) causando a ela muita alegria.
Repetidamente deteve a outros cristãos na rua, e, com o rosto radiante, partilhou com eles em qual porção estimulante da Escritura havia encontrado novamente um vislumbre do seu bendito Salvador. E, esses amigos, muitas vezes, sairam de sua presença chorando, e dizendo: —Temos visto a Jesus, temos visto o Seu rosto radiante. —Como resultado, o temor de Deus permaneceu em suas almas durante o resto do dia.
Assim como o muito conhecido pregador Carlos Spurgeon, ela estava no seu melhor quando estava partilhando acerca do Senhor. Em tais ocasiões, se mostrava como uma figura separada, tão afastada dos demais de nós, quanto a espiritualidade, pois conhecia ao Senhor de tão íntima e profunda maneira. Muitos deram testemunho que somente o seu sorriso ou o seu alegre “Bom dia, Deus te abençoe!” era um estímulo para eles pelo resto do dia.


Sua vida de oração
Elena foi um exemplo para todos nós. Levantava diariamente as cinco horas da manhã, para ter comunhão com o seu Senhor. Bem cedo nessas horas, não procurava aquecer o seu frio quartinho, nem procurava de forma alguma a comodidade, pensando que poderia estar mais alerta no frio. Além disso, por quem orava naquelas terras distantes não tinha tais comodidades.
Começava as suas comunhões com louvores e adoração. Depois, lia alguma porção da Palavra de Deus, para aquecer o seu coração. Em tais momentos, recordava as palavras de outro escocês, A. Murray McCheyne: “É a olhada a que salva, mas é a contemplação a que santifica”. Assim, contemplou com êxtase o rosto de seu Senhor. Não posso publicar as expressões de adoração que escreveu em seu diário depois de experimentar tal íntima comunhão com seu Senhor: são demasiadas sagradas.
Depois de alegrar-se pelo companheirismo e comunhão de Deus, começou o seu ministério de intercessão por seus amigos, igreja, familiares e centenas de missionários em terras distantes. Depois, orou pelos perdidos. Tinha uma lista deles, a qual consistia de pessoas não convertidas, a quem ela testemunhou, e, por quem orava diariamente até que nascessem de novo.
O seu desejo pela salvação dos perdidos é digno de admiração. A razão pela qual Deus lhe deu tantas almas, entre eles ricos e pobres, jovens e idosos, indoutos e inteligentes, era que agonizasse por eles dentro do véu, com orações intercessoras. (Isaías 66:8) Não havia nada incerto nem geral em suas súplicas.
Depois da sua morte, a sua mãe amavelmente me permitiu ler os seus diários pessoais, e ali vi que as suas petições ao trono eram intensas e definidas. Anotou a data quando começou a orar por uma certa pessoa, e a data quando recebeu a resposta da mesma. Esses diários revelam uma vida de oração que movia a Deus e aos homens. A razão disto, se entende o porque muitos choraram em todas as partes da Escócia, ao escutar que ela havia partido para a glória eterna, tendo apenas 22 anos. De igual modo, muitos missionários em terras distantes sentiram que haviam perdido o seu mais potente guerreiro de oração.
Elena entregava não somente a hora das manhãs, mas também durante todo o dia buscava a direção de seu Senhor em todos os assuntos, fossem pequenos ou grandes. Não era raro, depois de comprar um tecido, observá-la parar na frente da loja para orar, antes de comprar outras coisas. Tinha que agradar ao Senhor em todas as coisas, e não seguiria as tradições de mundanas. Sem dúvida, isto explica porque os seus amigos diziam:
 Elena sempre se vestia decentemente.
Da mesma forma, quando Elena buscaba almas perdidas, parecia subir mais alto do que todos os outros, mesmo entre as dezenas de milhares de crentes que habitavam na nossa grande cidade nesse tempo. Em muitas ocasiões, enquanto eu caminhava pelas ruas de Glasgow com meus tratados e uma lista de textos bíblicos, vi a Elena ocupada na sua própria maneira de ganhar almas. Nas noites frias do inverno escocês, a vi com os seus braços ao redor de alguma prostituta, compartindo com ela sobre Jesus e de Seu amor. Em outras ocasiões a vi interrogando a homens bebados, procurando uma maneira de aproximá-los de seu Salvador.


As campanhas evangelísticas
Em uma reunião, eu vi uma mulher sozinha sentada no banco de trás: Seus olhos acusavam cansaço e o seu rosto estava triste. Sob a direção do Espírito Santo, Elena se levantou e se sentou ao seu lado, ficando ali durante todo o culto, orando. Quando esta mulher se pôs de pé para ir embora, Elena foi com ela, falando-lhe da mensagem que fora pregada, e animando-a a aliviar-se. Desta forma, várias pessoas, sobrecarregadas com os empenhos deste mundo e esgotadas com o peso do pecado e do desespero, puderam conhecer ao Senhor. Porque Elena lhes guiou ao Cordeiro de Deus. Sem importar onde estivesse; sob a luz da rua, enquanto esperava a parada do bonde, ou em qualquer outro lugar.
Quando, nos seus últimos anos, entrou na Universidade de Glasgow para estudar, caminhava vários quilometros desde a sua casa até a Universidade, para assim poder distribuir tratados pelo caminho. Por sua vez, podia economizar a passagem do bonde, desta forma dando o que havia economizado para a causa missionária. O seu exemplo ajudou a muitos dos estudantes na universidade a aproximar-se de Cristo. Isto causou a Elena muita alegria.
Roberto Murray McCheyne ilustrava as suas cartas com um desenho do sol pondo-se atrás das montanhas, com as palavras: “A noite vem.” Este mesmo tipo de urgência impelia a Elena. Como McCheyne e Samuel Rutherford, Elena levava a fragância de Cristo onde quer que fosse, e igualmente a Guillermo C. Burns, manifestava o poder do Espírito em uma medida que poucos tinham alcançado.
O seu corpo era um templo ambulante do Espírito Santo (1ª Coríntios 6:19-20), tal que onde quer que fosse, exibia o poder de Deus. Ao entrar em um culto, imediatamente o ambiente do mesmo era tocado pelo Seu poder. Vi a Elena entrar silenciosamente em um culto de oração, que já havia começado, e apesar de ter se sentado no banco de trás, todos sabíamos que ela havia chegado. Sentimos fortemente a presença de Deus no nosso meio ao ela entrar.
Freqüentemente os evangelistas solicitavam a ajuda dela em suas campanhas. Não era porque cantasse ou falasse bem em público. Não me lembro nem sequer uma vez que ela testemunhou ou cantou sozinha numa campanha. Ela somente ficava sentada, orando em voz baixa. No entanto, esses evangelistas sabiam que se tivessem a Elena em seus cultos, seguramente viriam grandes bênçãos neles.
Alguns evangelistas reconhecidos me disseram que ela foi a pessoa mais desejável que haviam conhecido, para colaborar em suas campanhas. Um evangelista inglês, idoso e maduro na fé, deu testemunho que provavelmente a sua campanha mais bem sucedida fora a que Elena pôde assistir a todas as reuniões, durante as duas semanas de férias dela.
Em certa ocasião, estava falando com dois professores crentes da Universidade de Londres. Conversávamos a respeito do cristianismo dinâmico, quando de repente um deles me disse: — Irmão Stewart; quero dizer-lhe algo. —Depois contou-me a respeito de uma jovem da Universidade de Glasgow, a qual conhecia enquanto ensinava na mesma.
—Onde quer que fosse, —disse ele—, a fragrância de Cristo a seguia.
Por exemplo me contou da vez em que um grupo de jovens não convertidos estavam rindo e contando piadas obscenas. De repente alguém disse: —Silêncio! Já vem ela!. — Aquela jovem estava passando nada mais, sem perceber que deixava a fragrância do poder e temor de Deus onde quer que fosse.
O professor continuou contando que nas reuniões de oração na universidade, sempre se notou se aquela jovem estava presente ou não; sem importar se ela orasse em voz alta ou não. Tampouco importava se ela entrava no quarto sem ser ouvida ou vista; sempre podiam sentir a presença de Deus se ela se apresentasse.
Senhor, —lhe disse—, essa pode ser somente uma pessoa: Elena Ewan!
Sim!, —replicou—, esse era o seu nome. Era uma notável ganhadora de almas.
Da mesma forma, Elena tinha uma profunda fome da Palavra de Deus, junto com uma penetração espiritual da verdade divina, igualmente aguda. Não folheou a sua Bíblia para buscar as porções mais “saborosas”, as quais agradariam ao seu capricho do momento. Ao contrário, estudou-a por completo, desde Gênesis até Apocalipse. Portanto, tornou-se uma filha de Deus profundamente compreensiva, ainda que na idade de 16 ou 18 anos. Os seus pés estavam firmemente plantados sobre a rocha sólida das Sagradas Escrituras. Ainda que fosse uma diligente estudante, procurando ganhar boas notas para a glória do Senhor, continuou investindo tempo nos estudos bíblicos e na meditação.
Isto fez dela uma cristã bem equilibrada. Ainda que não houvesse nem tempo nem lugar na sua vida para a intriga ou para a conversa tola, borbulhava com uma saudável jovialidade e alegria pela vida, e por sua vez, a razão de que Cristo enchia a sua visão, procurava magnificar-lhe por uma vida santa e um serviço sacrificante.
Na universidade, Elena estava preparando-se para trabalhar como missionária entre os russos da Europa Oriental, o mesmo lugar onde eu trabalhei posteriormente. Assim, estudava o idioma russo, em preparação para o seu futuro ministério.
Mas Deus, na Sua sabedoria e amor, chamou-a ao seu lar celestial, a idade de 22 anos. Passou as suas férias com uma tia no Reino de Fife, e, enquanto estava ali, continuamente se ocupava no serviço de seu Senhor. Repentinamente adoeceu, e igualmente, de repente faleceu. Este acontecimento foi tão inesperado que nos comoveu a todos profundamente.
Durante este período eu estava trabalhando numa campanha evangelística em uma cidade do norte da Inglaterra. A notícia do falecimento de Elena me abateu. Não podia comer nem dormir. Tão grande era o meu pesar, que as pessoas dali admiravam-se, porque sabiam que esta jovem não era mais do que uma amiga espiritual, e não a minha noiva.
 Como pode ser —me preguntaram— que um jovem esteja tão afligido sobre a perda de alguém, especialmente quando foi uma amiga, e nada mais?
Não estava somente em meu pesar. Milhares de pessoas choraram em todas as partes da Escócia e da Inglaterra.
Muitos buscaram uma maneira de expressar, pelo menos em parte, a bênção que essa vida fragrante lhes havia trazido. Por exemplo, durante um culto memorial, um líder cristão se pôs em pé e disse para a assembléia de como a espiritualidade de Elena o havia afetado profundamente. —Era tão jovem que eu poderia ter sido seu pai —disse—. Conheci ao Senhor muitos anos antes dela, contudo, espiritualmente, ela parecia estar mais adiantada que eu.
Nas estações missionárias distantes, os missionários britânicos se afligiram com a notícia. Ai! Quem os sustentaria tão fielmente, aproximando-se por eles do Trono da graça agora? Quem se posicionaria, para assim tomar o lugar de Elena?
Muitos anos depois da morte de Elena, eu estava outra vez em Glasgow. E, estando com um grupo de amigos cristãos que compartilhavam algo do que a dedicada e radiante vida dela havia significado, ocorreu uma de minhas experiências mais comovedoras. A simples menção do seu nome trouxe encanto; uma força irresistível que impulssionava a um deles a ajoelhar-se, clamando: —Óh! Deus meu! Levanta a outros tal como Elena Ewan! Óh, Deus meu, faça de mim um homem melhor para a Tua glória!
Posteriormente, quando tive uns dias livres de minhas campanhas evangelísticas, visitei o cemitério onde repousa o corpo de Elena, com o propósito de dar graças a Deus uma vez mais pelo seu exemplo e vida. Ali me ajoelhei diante de Deus, e me ofereci novamente sobre o Seu altar, pedindo que o fogo de Deus caisse sobre mim.
A princípio, um dos coveiros a quem falei não podia lembrar ter enterrado a alguém tal como eu a descrevia.
 Deve dar-se conta que enterramos um grande número de pessoas aqui; este é um cemitério público —explicou.
Mas, ao continuar falando, este trabalhador robusto se comoveu extremamente. —Sim, agora me lembro —disse— Quando enterrávamos o corpo, senti a presença de Deus sobre este lugar.
Em outra ocasião eu estava reunido com um grupo de jovens, alegrando-nos no Senhor, quando de repente a minha esposa perguntou: — É essa a foto de Elena Ewan no suporte da chaminé?
Toda a risada cessou. Ao dar-se conta do profundo silêncio que nos sobreveio a todos no quarto quase imediatamente, me perguntou: —Santiago, disse algo indevido?
Um por um, sem dizer sequer uma palavra aos outros, nos ajoelhamos e começamos a orar!
Preste atenção nisto. Anos depois de sua morte, o seu simples nome ainda tinha tanto poder que nos colocamos a pensar no eterno! Óh, amigos, creio que a vida espiritual de cada filho de Deus pode ser igual a de Elena.
Como se explica tal vida?
Como podia uma irmã, sendo ainda jovem, e sem ter pregado uma mensagem nem cantado um só hino, e tampouco tivesse viajado mais do que trezentos quilometros de seu lar; como pôde ter afetado a tantas pessoas em todas as partes do mundo? Tão afetados foram eles, que pensava que a sua morte era igual a de um grande general do exército.
A Palavra disse em Josué 23:10 que “Um só homem dentre vós perseguirá a mil”. O mesmo se fez patente na vida de Elena. A sua vida valeu mais de mil cristãos comuns, quanto a suas realizações. E, a história da sua vida, traduzida a muitos diferentes idiomas, continua abençoando a muitos. “Como,” pergunto, “se explica isto?” Existe somente uma explicação: estava cheia do Espírito Santo!
Elena, que era uma jovem comum a princípio, se converteu em uma extraordinária, simplesmente pela razão de que se havia entregue a Cristo, e se havia apropiado para si mesma de tudo o que Ele lhe oferecia. Elena, com “rosto descoberto” (2ª Coríntios 3:18), investia o tempo necessário para poder receber, e de igual modo, refletir, a glória do Senhor, enquanto passava de uma glória para outra. Todo cristão reflete a glória do Senhor numa medida. Mas se vamos refleti-la perfeitamente, há três coisas indispensáveis que necessitaremos:
1. O espelho tem que estar limpo. Um espelho sujo não reflete claramente uma imagem.
2. O espelho tem que manter-se limpo. Nos tempos bíblicos, os espelhos eram de metal polido, e, tinham que ser polido continuamente para poder refletir bem. Da mesma forma, o espelho da tua vida necessita manter-se limpo e polido, se vai refletir conforme e perfeitamente a glória do Senhor.
3. O espelho tem que estar colocado em seu lugar: na frente do objeto que vai refletir. Necessitamos fixar ambos os olhos em Cristo — toda a vida exercendo-se nele — se desejamos refletir a Sua glória.
O meu desejo para você, querido leitor, é que possa render-se ao máximo ao teu Senhor: que possa, igual a Elena Ewan, e refletir a glória do Senhor.